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11 novembro 2024

INFLUÊNCIA NAS ELEIÇÕES: Como o crime organizado agiu para tentar interferir nas eleições municipais


 

Coação de eleitores, ameaças, extorsões e até impedimento de atos políticos de candidatos opositores: um outro lado da campanha eleitoral foi exposto no pleito de 2024, com o crime organizado tentando ditar regras e interferir nos votos em diversas regiões. Foi o que aconteceu em Santa Quitéria, no interior do Ceará: investigações evidenciaram o plano de uma facção para influenciar no resultado do pleito.

 

“Não se descarta a possibilidade de (o suspeito) atentar contra a vida de um candidato. Só que houve um trabalho de inteligência e ele foi preso”, afirma o procurador de Justiça do Ministério Público do Ceará Emmanuel Girão. A detenção ocorreu em outubro - o homem seria do Comando Vermelho, facção criminosa com base no Rio de Janeiro, e estaria agindo desde agosto para que o candidato apoiado pelo grupo vencesse o pleito.

 

O plano foi desmantelado por uma operação integrada envolvendo forças de segurança pública, promotores eleitorais e o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público. “Houve um trabalho de cooperação, um trabalho de inteligência”, diz Girão.

 

Com 40 mil habitantes, Santa Quitéria foi uma das cidades brasileiras em que o crime organizado agiu de forma ativa para tentar interferir no resultado das eleições municipais. Segundo o Ministério Público do Ceará, há investigações sobre a influência de facções na região da capital Fortaleza, em Sobral, Canindé e Choró. No estado, diversas ações integradas foram desencadeadas para apurar e barrar ações de facções, como ocorreu em Santa Quitéria.

 

A Organização dos Estados Americanos (OEA) alertou, em relatório preliminar publicado após o primeiro turno das eleições, para “a preocupação crescente” de vários atores sobre o risco de o crime organizado entrar no âmbito político. “Eles manifestaram o receio da ação de grupos criminosos de impor restrições de mobilidade nas áreas sob seu controle, afetando as candidaturas locais, bem como exercer coerção sobre os eleitores de algumas comunidades para influenciar o voto”, diz o texto de 9 de outubro, que foi elaborado por 15 observadores de nove nacionalidades que trabalharam durante a campanha eleitoral para monitorar as eleições brasileiras.

 

Em Cabo Frio, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, pessoas que trabalharam em campanhas relataram que foram proibidas de entrar em algumas localidades por facções. “O pessoal do tráfico vinha falar que não podia (entrar), que eles tinham um candidato deles”, disse um dos entrevistados que teve a identidade preservada. Houve relatos de situações semelhantes nas localidades Jardim Esperança, Tangará, Parque Eldorado e Favela do Lixo. Na cidade do Rio de Janeiro, há casos parecidos na zona oeste.

 

Cidades da Paraíba também foram tomadas por um clima de tensão entre os candidatos, que denunciaram a intervenção de facções criminosas no processo eleitoral. A uma semana do pleito, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou o envio de forças federais de segurança para quatro municípios do interior do estado: Cabedelo, Bayeux, Fagundes e Itabaiana.

 

Candidatos de diferentes partidos relataram dificuldade para fazer campanha em regiões dominadas pelo tráfico. Em João Pessoas, os principais concorrentes do prefeito Cícero Lucena (PP), que buscava a reeleição, o acusaram de envolvimento com o crime organizado, afirmando que facções criminosas estariam proibindo a realização da campanha eleitoral da oposição.

 

Cícero Lucena sempre negou qualquer envolvimento com o crime organizado, mas a Justiça denunciou que a primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, teria participado ativamente de um esquema com uma facção criminosa para influenciar as eleições municipais.

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